O nanoconto é a menor forma breve da narrativa: deve conter até 50 caracteres, sem contar os espaços e a pontuação. Mas, assim como o microconto, precisa contar uma história com personagem, conflito e clímax. Somente o desfecho é opcional. E, também é essencial que provoque uma emoção.
O microconto mais famoso de todos, aquele do escritor guatemalteco Augusto Monterroso, com menos de 50 caracteres – Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá – é um nanoconto.
Nesta edição da Newsletter MENOS É MAIS!, vou apresentar três de meus nanocontos, que fazem parte da versão impressa do livro A Brevidade das Coisas, a ser publicada nos próximos meses.
Três nanocontos
PRA CIMA
Subia mais escadas do que descia. Chegou lá.
Como o leitor interpretaria esse nanoconto? O personagem pode ser um adulto – homem ou mulher - ou uma criança. O foco está nas escadas que precisam ser escaladas, pra cima e pra baixo. Representariam as escadas fases da vida? Problemas a serem resolvidos? Pelo desfecho, parece que o importante é “chegar lá”, ou seja, que o personagem alcance o topo das escadas. E consegue. Mas, não é preciso que ele chegue ao topo em todas as escadas.
Eu gostaria muito que você deixasse a sua interpretação nos comentários.
O ESCONDERIJO
Foi encontrar a infância debaixo da cama.
Nesse texto, o personagem parece ser um adulto (homem ou mulher), à procura de alguma coisa que lhe remeta à infância. O quê? Um brinquedo? Um livro? Um álbum de retratos? Mas, será um objeto? Ou um lugar em que brincava quando criança? De qualquer forma, acaba encontrando o que procura debaixo da cama. O título induz que este lugar é (foi?) algum esconderijo. Mas, será o esconderijo do personagem ou de outra pessoa?
São muitas perguntas. Que tal você, leitor, responder algumas nos comentários?
LEITURAS
Ela lia livros não escritos. Depois, esquecia.
Bem, aqui o personagem é uma mulher (ela). Os “livros não escritos” seriam os livros que ela gostaria de ter lido e que não tinha lido ainda? E, assim, ela inventava as histórias ainda não escritas? Mas como ela tinha certeza que esses livros já não foram escritos? Quanto a esquecer, o que ela “esquecia”? As histórias inventadas?
Realmente, interpretar o texto de um nanoconto não é tarefa das mais fáceis. Aqui, a Teoria do Iceberg é aplicada ao extremo. A parte submersa é bastante profunda e, nem sempre o leitor está disposto a mergulhar para descobrir os tesouros escondidos.
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Até a próxima semana!
Eu me identifiquei, e muito, com essa infância debaixo da cama, Catherine. Desde muito garotinho, sobretudo depois que perdi o meu avô, eu queria ser um contador de histórias. Histórias da tradição oral, principalmente. Eu nasci cercado de palavras e de livros. E sempre fui muito encantado pelo mundo da fantasia, e me escondia debaixo da cama pra conversar com o Coquinho, meu amigo imaginário desde os 4 anos de idade; e para ler, na verdade rabiscar os livrinhos de leitura, porque eu ainda não sabia ler; mas inventava histórias das histórias dos livros infantis, basicamente a partir das gravuras. Bom demais, Catherine. Gostei muito.
Olá, Catherine. Amei o "Foi encontrar a infância de baixo da cama." Tudo pode acontecer ou ter acontecido nessa infância. Tudo pode estar esquecido ou encontrado debaixo da cama. E que cama é essa? Gostei muito.